Ele nasceu em Paris, no ano de 1740, no seio de uma família aristocrática e viveu numa época de conturbadas transições, que culminaram com a Revolução Francesa, em 1789. Ele foi o único filho sobrevivente de Jean-Baptiste de ... e de sua esposa, Marie-Eléonore de Maillé. Seus antepassados foram entitulados nobres no século 12 e ainda eram muito influentes na região da Provença, em França.
Com quatro anos, foi enviado aos cuidados de seu tio em Avignon, cuja a vida sexual era notoriamente fora dos padrões aceitos. Depois deste período, ele ingressou em uma escola jesuítica de Louis le Grand. Dos 14 aos 26, ele entrou para o serviço militar e esteve na Guerra dos Sete Anos. Donatien entrou para a história como Marquês (passou a Conde depois da morte do pai).
Seus escritos chocaram na época, chocaram depois, e ainda hoje continuam a chocar muita gente. E era este, sem dúvida, o objetivo do marquês, chocar para derrubar barreiras. Sua filosofia, fundada no ateísmo, leva ao extremo os ideais iluministas de liberdade.
Para ele, não há limites quando se trata da satisfação dos desejos. Em 'Idées sur les romans' (Idéias sobres os Romances), de 1800, ele escreve que na essência da representação novelistíca está uma relação incestuosa entre o escritor e a natureza e que, para ser verdadeiro a esse relacionamento, é preciso ignorar toda limitação e ultrapassar os limites das convenções sociais e do conhecimento.
Ironicamente, se seu espírito voava em liberdade, seu corpo mortal passou trinta anos em prisões francesas. Dos 74 anos de vida, ele ficou nada menos que 29 em prisões e asilos para doentes mentais. Em 1763, casou-se com Renée-Pélagie de Montreuil, filha de uma família burguesa. Um mês após o casamento, acabou preso por fazer desordens num prostíbulo ao lado de sua casa.
Tinha inúmeros casos e era comum a presença de prostitutas em sua casa. Sua fama cresceu por causa das inúmeras queixas que as prostitutas faziam às autoridades policiais. Ele as levava a um apartamento alugado na rua Muffetard, em Paris. Ao chegar lá, as prostitutas eram apresentadas a uma coleção de chicotes, cinturões de couro e correntes.
Em 1768, ele manteve como refém Rose Keller, uma prostituta, passando meses a abusar da garota. O chefe de polícia de Paris soltou um comunicado a todos os bordéis de Paris, avisando que Sade era um elemento de alta peculiosidade. Nos anos advindos, ele foi condenado por diversos crimes sexuais.
O ano de 1772 foi duro para ele. Foi preso por promover uma orgia em Marselha, onde foram servidos bombons de chocolate envenenados aos participantes.
Em Aix, foi condenado a morte pelo crime de envenenamento. Fugiu espetacularmante para a Itália. Foi preso e deportado para Paris, de onde foi enviado para a casa da família de sua mulher na Normandia. Lá, arrumou uma briga com Madame de Montreuil, sua sogra, ao seduzir Anne-Prospre, irmã mais nova de sua esposa. Entretanto, não foi uma mera sedução: ele tirou a virgindade da menina em uma orgia na fortaleza medieval de La Coste, em Provence.
Em La Coste, ele continuou a organizar orgias, coisa que o consumiu de 1773 a 1777, chegando, inclusive, a contratar um harém de jovens beldades como escravas sexuais. Após escândalos contínuos e acusações, ele foi preso em 13 de fevereiro de 1777.
Seu futuro foi o cárcere. Passou 27 anos rodando por prisões na França. Segundo lendas, quem arquitetou sua prisão foi a sogra, em vingança pelo ocorrido com sua filha mais nova.
Na prisão, começou a escrever novelas ilustradas (algo entre histórias em quadrinhos e fotonovelas) e peças com forte conteúdo sexual. Em julho de 1780, terminou o texto de Diálogos entre um Padre e um Moribundo.
O diretor do presídio leu os manuscritos e mandou retirar no mesmo instante pena e papel da cela do prisioneiro, para evitar que ele voltasse a escrever "coisas tão revoltantes".
Só que o prisioneiro conseguiu escapar, mas foi recapturado e transferido para a Bastilha, em Paris, no ano de 1784. Sua cela tinha meros 16 pés de diâmetro.
Naquele local, após vinte dias de trabalho, com jornadas de 19 a 22 horas, ele escreveu "Les Journées de Sodome" (Os 120 Dias de Sodoma, também conhecido como Escola para Libertinos) um clássico da literatura underground, sua obra-prima, o seu maior legado. Escrita num rolo de papel de 12 metros de comprimento, a obra descreve 600 variações do instinto sexual.
Em 2 de Abril de 1790, em meio à Revolução Francesa, ele foi libertado. Sua esposa conseguiu o divórcio e, em 1791, aos 51 anos, ele publicou "Justine". Ele havia conseguido sobreviver à Revolução Francesa, onde vários nobres foram executados. Provavelmente a revolta popular não caiu sobre o escritor por conta de suas idéias ousadas.
Para assegurar sua liberdade e propriedades escreveu um elogio a Marat, e foi eleito secretário de seu distrito em Paris.
Porém em 1801, ele foi preso novamente e enviado a Charenton, onde começou a escrever o romance "Les Crimes de L'Amour" (Crimes de Paixão). Neste período ele também organizava peças teatrais no asilo onde estava.
Seus últimos dias de vida foram passados sob tortura, organizada por um ex-abade do local. No dia 2 de dezembro de 1814, ele morreu. Como escritor, descreveu o prazer de torturar e humilhar o parceiro para obter satisfação sexual. Ele usava a violência em busca do prazer, na intimidade das alcovas e das celas de prisões e asilos que freqüentou. Por isso seu nome foi tornado sinônimo de "perversão sexual que consiste em infligir dor a outrem", conforme o psiquiatra Krafft-Ebing, inventor do termo "sadismo".
Seus trabalhos versam sobre a exploração sexual e liberdade política. Em "Idées sur les Romans", de 1800, ele escreveu que a essência da representação novelística está na relação incestuosa do autor com a natureza. E para ser verdadeiro com está relação, o escritor tem que atingir todos os limites, exceder as fronteiras da convenção e do conhecimento .
Sua obra é duradoura e revolucionária. Justine, por exemplo, versa sobre os encontros sexuais de uma jovem garota. Em sua filosofia, Deus é o mal e todo o sofrimento da protagonista é resultado de sua negação desta verdade. Ele, inclusive, declarou que este livro era capaz de corromper o próprio diabo e negou a autoria. Na sequência do livro, Juliette (1798), a heroína é a irmã de Justine, que se deliciava com os prazeres da maldade.
Ele, inclusive, chegou a enviar uma cópia deste livro para Napoleão. Seus escritos influenciaram até Charles Baudelaire. A reputação de "escritor maldito" sobreviveu à sua morte, em 1814. Seu próprio filho ordenou queimar dois terços de sua obra, condenada pela censura francesa do século XIX, - em vida ou depois de morto, quase todos seus livros foram publicados na clandestinidade.
Só depois dos gritos libertários de 1968 é que foram liberado para venda em livrarias. Quando "Os 120 Dias de Sodoma" foi descoberto, em 1904 o movimento surrealista delirou com os escritos. E Guillarme de Apollinaire, novamente, profetizou: "os escritos do Marquês de Sade irão dominar o século 20".